domingo, 19 de junho de 2011

Warren Buffett está “observando” ações no Brasil

Em sua tradicional apresentação aos acionistas da Berkshire Hathaway, no início de maio, Warren Buffett, o maior investidor do mundo, confirmou em poucas palavras o que diversos participantes do mercado por aqui já haviam notado. Por natureza econômico em seus comentários e capaz de um silêncio profundo quando fala de seus movimentos futuros, Buffett disse que estava “observando” ações no Brasil. Foi o suficiente para disparar uma onda de especulações mundo afora. 



Para uma empresa, receber a chancela do oráculo de Omaha equivale a um passaporte para as corporações de classe mundial. Traduzindo, o valor de suas ações subiria como um foguete. “Todo mundo quer ter Buffett como acionista”, diz Gustavo Ballvé, analista da empresa carioca de gestão de recursos Investidor Profissional, que segue os princípios do bilionário desde 1993 e investe na Berkshire desde 2004. “Isso representa a melhor avaliação possível da qualidade de uma corporação.” 
Desde o início, a estratégia de alocação de recursos da Berkshire Hathaway privilegiou o mercado americano. “Investimos US$ 6 bilhões em 2010, 80% disso nos Estados Unidos”, escreveu Buffett em seu último relatório. “Em 2011 vamos bater nosso recorde e investir US$ 8 bilhões, e esses bilhões a mais serão aplicados integralmente em companhias americanas.”
 
No entanto, essa estratégia tem limites, impostos pelo próprio tamanho de sua empresa, avaliada em US$ 204 bilhões no fim do ano passado. Mesmo nos EUA, não há tantas companhias grandes e rentáveis para sustentar o ritmo de crescimento almejado, o que o obriga a olhar para fora. “Buffett vem viajando ao Exterior e deve começar a fazer apostas grandes fora dos Estados Unidos, neste ano ou no próximo”, diz Barry James, presidente de uma gestora de recursos americana.
Buffett não é um neófito no Brasil. Em 2008, a Berkshire fez apostas no real brasileiro. Quais, ele não contou – o assunto mereceu meia linha no relatório aos acionistas daquele ano, uma peça que costuma ser lida pelo mercado financeiro como uma versão atualizada da Bíblia. No entanto, até agora ele não anunciou nenhum investimento direto por aqui. “Estou esperando um telefonema do Brasil”, disse aos analistas. “O desempenho do País em si tem sido extraordinário.”
Buffett revelou também que lhe ofereceram um negócio grande por aqui há algum tempo, mas as conversas não prosperaram. “O preço não fazia sentido”, comentou, sem mais detalhes. Que ações Buffett compraria por aqui? Não adianta perguntar, pois essa é uma daquelas informações que nem sua secretária sabe.
 
É preciso ler nas entrelinhas de suas cartas aos acionistas. Em seus últimos relatórios, o bilionário vem estabelecendo informalmente alguns dos parâmetros de escolha das empresas em que gosta de investir. Ele prefere companhias não muito caras, que tenham uma relação preço / lucro (P/L) inferior a 14, a média dos mercados emergentes. Há outros requisitos.
Um deles é um crescimento consistente nos lucros de, no mínimo, 50% nos últimos cinco anos, o que mostraria a capacidade da empresa de prosperar tanto em momentos de mercado aquecido quanto em tempos de crise. Outras exigências são uma rentabilidade patrimonial mínima de 10% e investimentos anuais maiores que 5% do patrimônio líquido.
Seguindo esses critérios, a empresa especializada Economatica levantou uma lista de 20 empresas, com nomes que vão da distribuidora de energia Coelce à seguradora Porto Seguro, passando pela TAM (veja a lista completa no portal da DINHEIRO:www.istoedinheiro.com.br). “É uma lista que deveria frequentar o portfólio de qualquer investidor”, diz Einar Rivero, sócio da Economatica. “São algumas das empresas com o crescimento mais sólido e consistente do mercado.”
Essa lista, porém, não abrange toda a filosofia de investimentos de Buffett, que vai muito além dos números. “Buffett começou sua carreira há mais de 40 anos imitando seu professor, Benjamin Graham”, diz Rui Tabakov Rebouças, que administra fundos nos Estados Unidos e é investidor na Berkshire. Segundo Rebouças, Graham só comprava ações muito baratas, que nunca dariam prejuízo.
Buffett compra ações baratas que podem dar muito lucro. Ele tem evitado setores sujeitos a imprevistos, como os de alta tecnologia e os muito regulamentados pelo governo. Isso tira da lista alguns papéis de empresas elétricas e telefônicas brasileiras, além de eliminar gigantes como Petrobras e Vale do Rio Doce. “São empresas excelentes, mas muito sujeitas à influência do governo”, diz Gustavo Ballvé.
Em fevereiro, correram fortes rumores no mercado de que Buffett teria comprado ações da Brasil Foods, resultante da compra da Sadia pela Perdigão (leia reportagem na página 84). Desde então, até quarta-feira 11, as ações subiram 5,3%, ao passo que o índice Bovespa recuou 2,5%. “A BRF é a típica empresa que poderia pertencer à Berkshire”, diz Elsen Carvalho, da Investidor Profissional.
 
O que a empresa acha disso? “Não confirmo nem desminto a informação”, diz Leopoldo Viriato Saboya, vice-presidente de finanças e relações com investidores. “Se alguém quiser adquirir menos de 5% das nossas ações, não somos obrigados a divulgar isso.” No entanto, o sorriso que acompanha a resposta de Saboya pode ser uma forte indicação de que, sim, os executivos a serviço do bilionário andaram fazendo perguntas por aqui.
Os analistas apostam em três outros papéis: Marcopolo, Odontoprev e Itaúsa, a holding do banco Itaú. A primeira, tradicional fabricante de ônibus, de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, e com um forte braço internacional, devido a sua presença no mercado de transporte coletivo. No relatório de 2010, Buffett comentou animado a aquisição, realizada em 2009, da ferrovia Burlington Northern Santa Fé, uma das maiores dos Estados Unidos.
Para ele, o transporte de cargas e pessoas por trens e ônibus é mais barato e mais sustentável do que o transporte individual. Nesse sentido, a Marcopolo se encaixa nas exigências. “Ela domina o mercado brasileiro, é boa geradora de caixa e pagadora de dividendos”, diz Rebouças. A Odontoprev também reúne amplas condições para ser uma das queridinhas do terceiro homem mais rico do planeta.
É uma forte geradora de caixa, praticamente não tem endividamento e consome pouco capital. “O problema é seu porte, a Odontoprev não faz nem cócegas em um gigante como a Berkshire”, diz Ballvé. Finalmente, a Itaúsa é capaz de fazer diferença nos números de Buffett: grande, lucrativa e solidamente estabelecida tanto no mercado financeiro quanto no setor de construção civil, que deverá apresentar bons retornos nos próximos anos. Por isso, vale a pena acompanhar os preços – e prestar muita atenção na divulgação do próximo relatório da Berkshire, marcado para abril de 2012.

#Warren Buffett está “observando” ações no Brasil
 
Fonte:
Isto É Dinheiro - Nº edição: 710 | Mercado Global | 13.MAI - 12:35 | Atualizado em 16.05 - 22:59

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